Raíssa Portela

Raíssa Portela

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Os detalhes da felicidade

        O vento que muda meu semblante é o mesmo que leva a dança aos galhos. Com ele não caminho, não corro, não me apreço. Deslizo entre o balanço que me rodeia, entorto a linha que era reta, abro caminhos na mata. Porque quando me deixo ser empurrada pelo vento, viro brisa. Sinto o poder de fazer as árvores balançarem, das nuvens se moverem sem pressa. Viro a leveza. 
         O azul vivo do céu completa essa transformação e eu me sinto aquecida. Nada é capaz de me fazer cair. Só o próprio vento sabe a hora certa de me pôr no chão de novo, de forma lenta e cuidadosa, como se eu tivesse ganhando meu corpo pela primeira vez. Mas agora que sou outra, não chego aos prantos. Dou gargalhadas, porque o vento me apresentou aos detalhes da felicidade.

domingo, 16 de abril de 2017

Inquietude é ser livre

          Sou inquieta porque tenho fogo. Aquele que incendeia minha mente e acende o otimismo da consciência da vida. E nessa escolha de obedecer a inquietude, faço tudo, faço nada, mas me persigo mesmo quando estou parada. 
        Minha ânsia é de me encontrar, aparentemente sem pressa, mas por dentro turbilhão. Viver é procurar seu lugar no mundo e a procura não tem fim. Talvez eu não tenha lugar ou tenha vários e, talvez, todos eles estejam dentro de mim. Por isso, escuto meu corpo. Mas para isso é preciso dar voz a ele. A voz existe quando ele é percebido. Ponto. Daí, dar importância a ele é um pulo. Dá vontade de rir sem parar ou até chorar, ao lembrar que tenho muitos mundos guardados pra conhecer. Tudo fica mais interessante. As coisas acontecem. 
        Adquiro o vício de fechar as pálpebras para abrir os olhos ao contrário. Porque querer se conhecer não é egoísmo. Não se pode ter medo do que está engavetado. Só assim enxergamos realmente o que está do lado de fora. Quando sabemos o que há do lado de dentro. 

sábado, 14 de janeiro de 2017

Sair do lugar é entrar em seus mundos secretos

Arquivo pessoal

        Não entendo essas revistas que falam de lugares paradisíacos para se esquecer do mundo por completo. Porque quando visitamos lugares assim, o que mais acontece é justamente o contrário. Relembramos o que é o mundo realmente, o que é a vida, o que de fato importa. 
       Ver uma paisagem encantadora à sua frente e ficar boquiaberto com ela é sentir a vida escorrendo pelo seu corpo. Para mim, esse é o verdadeiro mundo, não o que fizemos dele. Não é à toa que passamos o ano inteiro só pra chegar a hora das férias. Todo mundo se sente melhor quando segue o ritmo e as vontades do próprio corpo. O corpo precisa ser ouvido. E, às vezes acho que só nas férias isso acontece. 
       Acordar a hora que quiser, desde que seja a tempo do café da manhã. E, a cada novo dia, decidir o que fazer. Redescobrir o mar toda vez que o vê. Acho que toda vez que vejo o mar é como se fosse a primeira. Quem me dera, se no meu dia-a-dia tudo fosse sempre redescoberto. Até tento olhar com novos olhos as coisas que me rodeiam. Nem sempre dá. A rotina deixa o corpo cansado demais pra se excitar com os detalhes. Por isso é preciso fugir dela. Nem que seja uma ou duas vezes ao ano. Mas, no meu caso, a vontade é de fugir sempre. Porque se sentir vivo é viciante. E tudo o que eu queria era lindas e novas paisagens a todo tempo, para me servirem de inspiração. Porque sair do lugar em que se está é entrar em seus mundos mais secretos. 
     Mas enquanto eu não puder estar em férias eternas e abusar das idas e vindas, tentarei relembrar as sensações que elas me trazem para conservá-las em mim, mesmo fora delas. Me esforçarei para olhar da janela do ônibus, o lugar incrível (e ignorado também) que me cerca; tentarei explorar os lugares tão próximos e que não conheço; procurarei aprender coisas novas e nunca deixar de fazer as que eu gosto, pois também me fazem sentir viva. Me prenderei aos olhos de quem passar por mim, mesmo que por segundos apenas, porque eles também carregam outros mundos que me farão viajar. 
       Antes de por meu sonho em prática de sair do lugar sem rumo, sem compromissos, sem a obrigação de voltar, viajarei por minha terra sempre com olhar de estrangeiro. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Vazio que me preenche

A vida é como uma ligação perdida
Eu pergunto, ela não responde
Insisto e nada muda
Ela é sempre o silêncio
E o querer saber
Ela é o vazio cheio de sentimento
É a permissão para quem não faz
É o que não tem sentido mas atrai
É o que não sabemos mas queremos
Talvez porque não temos
Ou por pensarmos que é outra coisa
É achar que está feliz mas ser tristeza
Ou apenas o que se espera alguma resposta

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Sensação de infinito

     A espera é a sensação de infinito. Enquanto ela estiver presente, o que se espera não virá. Talvez por isso eu tenha tanto apreço por ela, porque carregar o infinito, mesmo que por alguns instantes, é duvidar das verdades que são espalhadas sem dúvidas e sem parar. E eu adoro a possibilidade dessas verdades serem mentiras. É o que me faz sonhar acordada. E eu sonho mais acordada que dormindo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Eu sou o que meu corpo guarda

     O que me ajuda a encarar os caminhos desconhecidos é a vontade de que sejam bons. O que me faz ter certeza de que não sou o meu corpo. Eu sou o que eu sinto. E o corpo é como um muro que guarda o que eu sou para que eu não me perca mais ainda por aí. Pudera eu ter descoberto isso antes de engordar e emagrecer tantas vezes. Porque um muro não diz nada do que está por trás dele. Mas suas brechas sim. Não é à toa que não vejo as danças nos corpos e sim nas brechas que só alguns conseguem abrir. Há dança em poucos corpos. Há corpos sem brechas. E só consigo me envolver na vida quando faço das brechas dos outros, meus caminhos. E quando os outros fazem das minhas, os seus. 

sábado, 10 de dezembro de 2016

Eu quero me beijar até dizer que eu gosto

Quero beijos doces que me esquentem a pele
Quero um olhar profundo que me arrepie o pelo
Quero um abraço grudento mas que seja breve
Quero palavras que me conquistem mas fatos que me provem
Quero sorrisos envolventes mas que não dependam dos meus
Quero convites inesperados mas que não sejam ao léu
Quero me sentir em casa em qualquer lugar do mundo
Em que eu esteja ao seu lado

Mas antes, eu quero me beijar até dizer que eu gosto

(E isso pode levar uma vida inteira, desde que seja longa)